domingo, dezembro 31, 2006

escritos

Os meus escritos andam arredados de mim.

Luz

Natal, Ano Novo, Singapura

Apesar dos vários convites para a consoada, preferi ficar em casa. Era o primeiro natal em toda a vida da minha filha que estávamos separadas. Ela na Tailândia e eu nesta Lisboa.
No dia de Natal lá conseguiram arrancar-me do ninho e passei o almoço e o jantar em casa de uma amiga, com outra amiga, filha e o companheiro da primeira que é poeta, mas só escreve em espanhol, pois viveu a maior parte da vida em Espanha.
Hoje os sogros da minha filha telefonaram-me para passar o fim de ano, mas prefiro ficar em casa.
A minha filha, entretanto enviou um mail de Singapura aonde tinha regressado, com fotos dos lugares onde andaram, muito agradáveis e baratos.
Mais tarde recebi um telefonema dela e do marido. Felizes.
E eu também, eles estão bem eu fico bem.
Já tenho viagem marcada para Singapura para 31 de Janeiro. Falta um mês- Vou com uma amiga que está deliciada por poder aproveitar a viagem...é que não se paga hotel, ficamos em casa da minha filha.

sábado, dezembro 30, 2006

Desconhecido

Por enquanto este blogue mantem-se desconhecido cá na santa terrinha e ainda bem.

Este jacintozinho resolveu florescer antes de tempo. Que coragem

sexta-feira, dezembro 29, 2006

quinta-feira, dezembro 28, 2006

28-12-2005

quando no mar te perdeste
julguei-me perdida de ti

semeei brancos malmequeres
no teu túmulo de jade

sentei-me à beira do sol
desenhei um horizonte

dormi em berço de ondas
acordei contigo nos braços

m.f.s.

terça-feira, dezembro 26, 2006

ao meio-dia choram águas de sal
um braço erguido
outro seguindo o contorno da côxa

as poeiras cobrem-lhes as frontes
que não descansam nos azulejos
os olhos sem palas e brilhos de fogo
fogem para as grutas de sobressaltos

a matéria das chamas dança em espirais
enquanto gritam no interior
da sua caverna esburacada
sem sombras à entrada


m. f. s.

segunda-feira, dezembro 25, 2006

25-05-2005

talvez não se saiba nunca porquê
como
para quê

o movimento é perpétuo
nos nossos átomos
nas circunvalações
do nosso cérebro

no cair das células
na paisagem
onde pernoitamos

talvez já saibamos tudo
e não saibamos

sentimos o corpo
que se transforma
em outras energias

amamos as outras vidas
donde viemos
e para onde iremos

mergulhamos nas ondas
dos outros eus

dos outros que nos reflectem
e a quem reflectimos

talvez ainda não tenhamos
descoberto
o nosso parentesco
com aquele
que contestamos

talvez esteja escondido
nas noites da ignorância
o elo que nos transforma
uns nos outros


m.f.s.

24-07-2005

sob os pés se despenham as horas
o tempo desfaz-se em nuvens de nada

sou transparente

não me ilumina a luz do dia
nem os relampejos das estrelas
nem a prata lunar me toca

sou invisível

uma pena levemente me toca

sou de mármore

a água penetra em minhas veias

sou um rio

as pupilas rasgam os negros nocturnos

sou asfalto

as asas que se fecham pra morrer
cobrem os corpos abandonados das silfides
os centauros murmuram cantos sagrados

sou um desenho

há sereias nas cascatas
esfinges nos penhascos
Orfeu toca a sua flauta

sou uma linha

m.f.s.
já sangravam os céus e eu caía
eu caía

abriram-se rochas de majestosa rudeza
e eu caía

as asas dos ventos aplanavam os campos
os horizontes fugiam

a paisagem contorcia-se
reflectida no meu corpo
que caía

as fontes gritavam em golfadas vermelhas
que sobre mim caíam

que sobre mim caíam

mfs

01-06-2005

tudo é perfeito porque tudo morre
os monstros não restam nos arrozais
as tarântulas largam a negra penugem
as lebres finam-se nos milharais

tudo é perfeito até ao fim
as mãos lembram-se e abrem as palmas
pra receber a luz que de dentro sai
e num volteio lhes leva as almas

sorriem as rosas no êxtase cerúleo
coram os cravos lá nos jardins
louvam o destino as cotovias
nas suas rotas de ácidos carmins

m.f.s.

presque morte

estou presque morte à beira do lago imenso
tranquilo
de vidro feito

as aves navegam como caravelas
de curvas velas brancas
arrastando a poalha
do vidro lacustre
o violino esfrangalha-me a alma
nas suas volutas de sons plangentes

a cigana cantarola em longos gorgeios
as notas arábicas das estepes

e longe de não sei onde
um odor a ervas cortadas
envolve-me os cabelos

julgo chegado o tempo de partir
a cavalo no unicórnio
que me destinaram


m.f.s.

fímbrias

segura o poema na paisagem com dedos de agulha

pelas fímbrias dos caminhos as palavras diluem-se em pulseiras

de vidros foscos

renascem as ervas felpudas nas cabeças descoroadas

pelas revoltas dos legumes

os canaviais sussurram medos de alienígenas

engole a flor desbotada do arbusto irritante

larga uma letra do poema

mais outra

mais outra

o poema escangalha-se

planta-se nas ervas craneanas

de um golpe habilidoso as canas vergam-se

à navalha de vento

o segredo dos medos evola-se no

fumo nublado dos olhos encegados

desfaz-se em flocos de neve envidraçada

sobre os lagos distantes dos satélites de

Saturno

m. f. s.

18-10-2005